Ele, a Lua



Desde pequena sempre fui fascinada pela Lua. Ao contrário dos incessantes clichês, não era nada romântica a minha admiração. Passava horas e horas de minhas noites solitárias olhando aquela coisa brilhante no céu, às vezes esforçando-me para detalhá-la cerrando meus olhos mediante minha miopia.

Para mim ela era realmente incrível. Me perguntava dia e noite se as pessoas também conseguiam notar naqueles pedacinhos esburacados coisas tão fascinantes quanto eu podia notar. Um grande queijo de bilhões de anos, cheio de histórias, cheio de beleza e de uma singularidade tão comovente. Era especial.

Certa vez, num sonho em um dos cochilos que tirava na sacada de casa enquanto a observava, tive a oportunidade de transformá-la em um amigo. Uma forma humana da parte mais linda do céu. Uma oportunidade de poder dizer à coisa que mais me arrancava sorrisos o quanto era especial para mim, o quanto era incrível.
Para minha surpresa, minha Lua apareceu como um garoto. Tímido e com mania de desviar o olhar sempre que tentava prendê-lo aos meus. Dizia se chamar Alê.

Ele, por sua vez, dizia-me achar o contrário de tudo o que eu pensava. Como é que consegues enxergar algo tão bonito em mim, não percebes que sou apenas uma rocha repleta de defeitos? - Perguntava.

Eu, como uma boba enfeitiçada respondia mencionando cada detalhe de sua superfície, cada marca que parecia ter sido esculpida por um artista paciente e carinhoso. Marcas de felicidade e tristeza, sonhos e desejos, algumas frustrações e tristezas mas todas com uma complexidade notável e mágica.

Por mais que me sentisse um pouco frustrada por não conseguir mostrar para ele o quanto era especial, o quanto me cativava e me fascinava com seus detalhes difíceis de compreender, me sentia extremamente feliz de apenas poder olhar para ele naquele breve momento, movimentar meus lábios e dizer o quanto ele era incrível.

A vida havia me ensinado que boa parte de nossa verdadeira beleza não é notada por nós, mas fazemos algo bom quando nos abrimos e deixamos ser admirados e descobertos por alguém. E quando ele sorria eu me sentia privilegiada por apenas conseguir fazê-lo ouvir todas as coisas que meu coração arremessava para fora de meu peito em forma de palavras.

Ah, e se ele sorria eu me sentia especial também. Voltava os olhos para mim mesma, para minhas marcas e conseguia perceber que todos nós somos algo complexo e bonito.

A noite passava, e da mesma forma que a Lua se movimenta em nossos céus ele se distanciava de mim com a mesma timidez com que apareceu, falando pouco e negando meus elogios com o rosto corado, com todos seus detalhes que talvez só eu pudesse ter notado após tantas obervações.

Assim, meu primeiro encontro com aquele garoto, a forma humana da Lua, terminava. Contudo, após vê-lo sumir devagarinho no horizonte, coloquei a mão em meu peito e desejei mais ainda poder tê-lo nos dias seguintes e, quem sabe, para sempre pertinho de mim.



 Escrito por: 
Cecília Valentim 






6 comentários:

  1. Que lindo. Também sou uma apaixonada pela lua, de modo a ficar mais que enfeitiçada, esquecer o tempo ou querer congelar. Gostei de seu texto ^^

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  2. Olá Cécilia, muito lindo o seu texto *-* a forma que você descreveu a cena e os pensamentos ficaram tão leve e gostoso *-*

    Meu Mundo, Meu Estilo

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  3. Olá,
    Amei o texto! Notei uma sensibilidade incrível ao escrever e consegui extrair o melhor do texto em sentimentos. Muitas pessoas não enxergam a própria beleza, possuem uma baixa estima e são pessimistas. Tudo que precisam é de alguém que as admire e as encoraje. Isso também faz bem para quem fala, para quem admira.
    Beijos
    Blog Relicário de Papel

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  4. Que texto mais lindo. Amei a forma como você escreveu e fiquei aqui sonhando acordada... Sempre amei a Lua - e sempre fui super romantica quanto a ela e até sua simbologia...
    Parabéns :)
    Beijinhos,
    Lica

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  5. Oie tudo bem? Não sou uma apaixonada pela lua, mas adorei seu texto, muito romântico e sensível.

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  6. Que texto lindoo! Adoro admirar a lua também!

    Beijos!

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